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Unificação ortográfica.
A partir de 02 de janeiro de 2009, passam a valer as novas regras para a língua portuguesa.
Todos os países que falam o português passam a adotar a partir desta quinta-feira (1º/1) as mesmas normas de escrita. Com a ortografia unificada, mais de 280 milhões de pessoas em todo o mundo podem se comunicar sem o receio de ser incompreendidas. No Brasil, o alfabeto oficial volta a conter as letras k, w e y.
Além da volta das três letras excluídas do alfabeto em 1971, quando foi referendado um sistema ortográfico simplificado, estabelecido pela Academia Brasileira de Letras em 1943, o trema deixa de ser usado definitivamente, assim como o chamado acento diferencial —o que faz com que a palavra “pelo” possa ser tanto “por meio de” quanto uma flexão do verbo pelar (eu “pelo” o cachorro) e o substantivo usado para denominar o que recobre o braço humano (os pelos). O hífen e os acentos agudos e circunflexos também deixam de ser usados em algumas situações.
Transição
Conforme dispõe o Decreto 6.583/08 que institui a unificação ortográfica, até 2012, o país vai viver um período de transição, em que serão aceitas as duas formas. O governo ainda deve demorar um pouco para adotar a nova forma de escrita. Só neste mês a Casa Civil começará a atualizar o capítulo sobre ortografia do seu manual de redação. Na prática, isso quer dizer que os textos oficiais —como aqueles publicados no Diário Oficial da União— só passam a adotar as novas regras quando a atualização for feita.
De acordo com a assessoria de imprensa da Casa Civil, não há um prazo definido para que seja concluída a atualização, e a estimativa é de que não demore muito. Há um guia com as novas regras do acordo ortográfico na intranet para ser acessado pelos servidores do Palácio do Planalto, mas, para virar oficial, é preciso que as mudanças constem no manual. A atualização é feita pelo setor jurídico da Casa Civil e uma comissão foi formada para fazer as alterações.
Em 2010, os livros didáticos adotados pelo Ministério da Educação já devem vir com as novas normas da língua —editoras e autores também já estão em processo de adaptação. Para toda a sociedade, não há nenhuma modificação no modo de falar.
Contudo, a volta das letras é importante para o reconhecimento de outras línguas brasileiras —são cerca de 170, em que se incluem as línguas indígenas. “São línguas ágrafas (sem escrita), mas, à medida que os linguistas passam a estudá-las, passam a criar grafias para elas, e muitas dessas palavras são grafadas com y”, conta a linguista da Universidade de Brasília, Stella Bortoni.
Ela afirma que idiomas como o francês e o espanhol usam a mesma ortografia oficial, e a unificação do idioma é um passo crucial para o reconhecimento como língua internacional. “É um dia glorioso para a política da língua portuguesa no Brasil e nos outros países, porque, durante todo o século 20, alguns estudiosos tentaram acertar um acordo, principalmente com Portugal, mas era muito difícil. O Brasil fazia reformas, Portugal não acatava, e vice-versa”.
Ela diz, ainda, que muitas pessoas a questionam se, com a simplificação do uso de acentos, já não seria o caso de acabar com esses sinais, como na língua inglesa. “A tradição da ortografia do português incluiu os acentos e há certos acentos que são absolutamente importantes. Como é que se distingue, por exemplo, fábrica de fabrica? Então esses acentos das proparoxítonas não sofrem alteração”, argumenta.
Confira as novas regras:
Alfabeto
Hoje tem 23 letras, agora passa a ter 26. O k, w e y voltam ao alfabeto oficial, porque o acordo entende que é um contra-senso haver nomes próprios e abreviaturas com letras que não estavam no alfabeto oficial (caso de kg e km). Além disso, são letras usadas pelo português para nomes indígenas (as línguas indígenas são ágrafas, mas os linguistas estudiosos desses idiomas assim convencionaram). Na prática: nenhuma palavra passa a ser escrita com essas letras —”quilo” não passa a ser “kilo”.
Somem da ortografia
Trema: somem de toda a escrita os dois pontos usados sobre a vogal “u” em algumas palavras, mas apenas da escrita. Assim, em “linguiça”, o “ui” continua a ser pronunciado. Exceção: nomes próprios, como Hübner.
Acento diferencial: também desaparecem da escrita. Portanto, pelo (por meio de, ou preposição + artigo), pêlo (de cachorro, ou substantivo) e pélo (flexão do verbo pelar) passam a ser escritos da mesma maneira. Exceções: para os verbos pôr e pode - do contrário, seria difícil identificar, pelo contexto, se a frase “o país pode alcançar um grande grau de progresso” está no presente ou no passado.
Acento circunflexo: Desaparece nas palavras terminadas em êem (terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo de crer, ver, dar...) e em oo (hiato). Caso de crêem, vêem, dêem e de enjôo e vôo.
Acento agudo:
Nos ditongos abertos éi e ói, ele desaparece da ortografia. Desta forma, “assembléia” e “paranóia” passam a ser assembleia e paranoia. No caso de “apóio”, o leitor deverá compreender o contexto em que se insere – em “Eu apoio o canditato Fulano”, leia-se “eu apóio”, enquanto “Tenho uma mesa de apoio em meu escritório” continua a ser escrito e lido da mesma forma.
Desaparecem no i e no u, após ditongos (união de duas vogais) em palavras com a penúltima sílaba tônica (que é pronunciada com mais força, a paroxítona). Caso de feiúra.
Uso do hífen
Deixa de existir na língua em apenas dois casos:
Quando o segundo elemento começar com s ou r. Estas devem ser duplicadas. Assim, contra-regra passa a ser contrarregra, contra-senso passa a ser contrassenso. Mas há uma exceção: se o prefixo termina em r, tudo fica como está, ou seja, aquela cola super-resistente continua a resistir da mesma forma.
Quando o primeiro elemento termina e o segundo começa com vogal. Ou seja, as rodovias deixam de ser auto-estradas para se tornarem autoestradas e aquela aula fora do ambiente da escola passa a ser uma atividade extraescolar e não mais extra-escolar.
Em Portugal
Caem o “c” e o “p” mudos, como “óptimo” e “acto”. Passam a ser grafadas como o Brasil já fazia. Palavras como “herva” e “húmido” também passam a ser escritas como aqui: erva e úmido.
ÚLTIMA INSTÂNCIA - 31/12/2008
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